Mensagens do Provedor
Discurso do Provedor no 495º Aniversário da Misericórdia de Sines
- Exmo. Senhor Presidente da Mesa da Assembleia-Geral da Santa Casa da Misericórdia de Sines.
- Exmas. Entidades e Convidados.
- Minhas Senhoras e meus Senhores.
Hoje, a Santa Casa da Misericórdia de Sines comemora 495 anos, uma idade centenária,
encontrando-se no limiar de se tornar quinhentista. Esta longevidade testemunha, assim,
a capacidade e tenacidade de dirigentes e colaboradores em sobreviver a todas as vicissitudes
e dificuldades, sempre com o objectivo de minimizar o sofrimento da população mais débil e
carenciada, e dar conforto aos mais desfavorecidos.
Tenho consciência que, ao longo dos séculos, esta e todas as outras Misericórdias sentiram
e viram no seu seio muita dor e sofrimento. Mas gostaria também de realçar, as alegrias de
todos aqueles que contribuíram para a transformação de um esgar num sorriso; daqueles que,
ao acolher um utente, a maioria das vezes desconhecido, debilitado e desamparado, o ajudaram
no seu processo de integração, transmitindo-lhe segurança e conforto para o início do seu novo
ciclo de vida.
É nesta luta por uma humanização permanente, que se destacam as Misericórdias com a sua
matriz de Solidariedade Social e todas as entidades e equipas que as compõem, de profissionais
e voluntários, que em partilha mútua se entregam abnegadamente ao desempenho das suas missões.
Dentro do voluntariado, será justo realçar o papel dos muitos Provedores, que por esta e outras
Misericórdias passaram, empenhados na mesma missão: ajudar o próximo e contribuir para a
continuação do Compromisso das 14 obras da Irmandade das Misericórdias.
E permitam-me que neste discurso introduza uma breve nota de cariz pessoal. Quando no dia 28
de Setembro de 1966 desembarquei em Lourenço Marques, a caminho da guerra do Ultramar,
após uma parada militar de boas vindas, um Comando das forças armadas, dentro do seu discurso
afirmou: não conheço homens maus; só conheço dois tipos de homens: os bons e os menos bons.
Esta frase embora curta, para mim, tem servido de padrão desde essa altura, tanto na minha vida
pessoal como profissional. Procuro sempre estimular e valorizar o que as pessoas têm de bom.
Em meu entender, hoje, nesta cerimónia, estamos a homenagear um grupo de pessoas, que
certamente só poderiam ter utilizado o melhor de si próprias, para levar a bom porto as suas difíceis missões.
É graças a eles que nos encontramos, hoje aqui, a celebrar 495 anos e a prestar-lhes esta merecida homenagem.
Não quisemos deixá-los esquecidos nas páginas dos poucos livros que conseguimos salvaguardar,
correndo o risco de também estes um dia desaparecerem, legando para o esquecimento pessoas de
bem, alguns deles verdadeiros heróis na área social.
Por isso mesmo, decidiu a Mesa Administrativa da Santa Casa reabilitar a parte da história a que
conseguiu ter acesso até à presente data, e dar a conhecer os rostos de todos aqueles que nos foi
possível encontrar. Procedemos a um pormenorizado trabalho de investigação de fontes, internas
e externas, a consultas com entidades e pessoas sábias e idosas de Sines, que nos facultaram
informações, contactos de familiares e conhecidos, e nos forneceram pistas que nos permitiram
alcançar os objectivos que hoje partilhamos convosco.
Fazemo-lo, não por uma questão de exibicionismo, acreditamos até que alguns deles nem gostariam
de ser expostos porque cumpriram a sua missão de uma forma despretensiosa e benemérita, mas
sim para realçar as suas virtudes e fazer deles um exemplo a seguir. Para que os seus feitos se
tornem num motivo de orgulho para os seus sucessores, e despertem, naqueles que agora têm
oportunidade de os conhecer, a vontade de seguir estes exemplos e abraçar as mais nobres causas
humanistas e solidárias.
Esta galeria evidencia uma outra vertente das Misericórdias, que transcende o âmbito estritamente
assistencial, projectando-as como reveladoras e dinamizadoras de um vasto e riquíssimo património
cultural, que muito as enobrece na sua missão.
Gostaria ainda de realçar o desenvolvimento ocorrido nas Misericórdias nestas últimas décadas, a
começar pela melhoria dos equipamentos sociais, pela formação e especialização adequadas às
necessidades na prestação de serviços dos seus funcionários, e, ultimamente, a criação dos
equipamentos de Cuidados Continuados. Estes, com grande qualidade a nível de instalações,
pessoal especializado e tecnologias, conseguiram, de uma forma surpreendente, tornar-se num
sucesso, hoje, reconhecido por todos.
Mais uma vez, o papel dos Provedores foi determinante, demonstrando que estão disponíveis
para enfrentar os desafios, mesmo os mais arrojados, em prol da saúde e bem-estar dos utentes.
Apesar da elevada exigência de qualidade e competências a que este tipo de equipamentos obriga,
vemos-lhe reconhecida a sua grande utilidade pública e social, numa abrangência a nível nacional
de cerca de 5000 camas.
Para concluir, gostaria de agradecer a todos os que colaboraram e contribuíram para que este
projecto se concretizasse, aos familiares e amigos, às entidades e restantes convidados pela
sua presença nesta homenagem.
E aos ex-provedores e descendentes, o nosso mais sincero agradecimento pelo seu contributo
em prol da Solidariedade Social.
Um grande Bem-haja para todos.
O Provedor
Luís Venturinha de Vilhena