Mensagens do Provedor
(Des)igualdades
Caros amigos e colaboradores
Sem pretender filosofar, pois é sabedoria da qual não me advogo,
procuro hoje fazer uma breve reflexão sobre a questão da igualdade.
Diz-se na gíria popular, que quando nascemos, “nascemos todos nus”;
ora, aqui estamos perante uma afirmação que nos aponta para o conceito
de igualdade, ou seja, pelo menos uma vez na vida somos todos iguais,
neste aspecto. De alguma forma estou de acordo; porém, é uma realidade
que ocorre enquanto o feto se desenvolve no ventre da mãe, ou nos breves
momentos após o nascimento.
Por quando chega a hora de se cortar o cordão umbilical e aconchegar
um recém-nascido, já tudo muda de figura e começam as diferenças: o
“berço de ouro”, ou, usando a metáfora bíblica, “nas palhinhas deitado”.
Também ouvimos a voz do povo dizer que “quando morremos, vamos todos
deitados”, com o sentido de mais uma vez sentirmos que também na morte
seremos todos iguais; questiono, seremos? Se o formos, penso que será
ainda por mais reduzidos segundos, o que quer dizer que a nossa igualdade
é bastante efémera.
Embora muitas pessoas e organizações sempre tenham idealizado, lutado e
sofrido pela igualdade dos Direitos Humanos, o que considero um acto
meritório e altruísta, resume-se, em meu entender, a um desígnio: reduzir
as desigualdades sociais, o sofrimento humano e uma melhor distribuição da riqueza.
Neste contexto, é meu desejo, e penso que de todos os provedores, proporcionar
o maior bem-estar possível a todos os nossos utentes, de forma que seja respeitada
a cidadania e, sempre que possível, tentar um tratamento igualitário, humano e
adequado a todas as suas necessidades.
Mesmo que as intenções sejam boas, as dificuldades são bastante mais, pelos mais
variados motivos. Começa pela forma como a pessoa aceita o seu novo estatuto de
vida, a sua capacidade de adaptação e reacção, a qualidade do equipamento onde
está alojada, a forma como se relaciona e é tratada, a sua capacidade de entrega,
e receptividade, a capacidade de dar e receber, de odiar ou de amar.
Enfim, uma infinidade de razões que nos condicionam, mas não nos desmotivam,
que encerram muitas incógnitas, mas em simultâneo nos desafiam à descoberta e
procura das soluções mais eficazes e possíveis, dentro de um mundo onde se
cruzam os vários extractos sociais, as desigualdades culturais e políticas e
que dificultam, em grande medida, as tentativas de tratamento igualitário
dentro das organizações das Misericórdias e restantes instituições sociais.
As dificuldades existem, mas coexistem também os desafios e a vontade de
fazer melhor. Tenho consciência que a luta não é fácil, e muito menos pode
ser ganha com a brevidade dos nossos desejos. Este tipo de luta não se pode
medir pelo tempo, mas sim pelo acreditar nos objectivos, sempre com o
espírito de nos erguermos por cada queda que nos aconteça.
Actualmente as coisas poderiam estar mais fáceis no que respeita à nossa
Misericórdia, mas continuamos perseverantes na procura de novas ideias e
acções, de forma a conseguirmos evoluir para soluções e práticas inovadoras
a bem da Misericórdia, utentes, funcionários e todos em geral.
Para os que estão ou partem para férias, desejo um bom descanso e a
recuperação de energias para os desafios que nos aguardam.
Um bem-haja e até á próxima edição.
O Provedor
Luís Venturinha de Vilhena